É uma doença infecciosa crônica causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, adquirida, na maior parte das vezes, por contato sexual com outra pessoa contaminada. Se não tratada, progride tornando-se crônica e com manifestações sistêmicas, isto é, comprometendo várias partes do corpo. Sua progressão, de acordo com o grau de comprometimento do corpo, ao longo do tempo, foi dividida em estágios (primária, secundária e terciária). As duas primeiras fases são as de características mais marcantes de infecção, quando se observam mais sintomas e é mais transmissível, após o que se observa um longo período de latência, quando a pessoa não sente nada, apresentando uma aparente cura das lesões iniciais, mesmo em indivíduos não tratados. Passada esta fase inicial, a capacidade de transmissão diminue. Após alguns anos, podem surgir manifestações da doença no coração, cérebro e, virtualmente, em qualquer órgão do corpo.
Pode-se adquirir sífilis por contato sexual, via placentária (sífilis congênita, o feto adquire na vida intra-uterina), por beijo, ou outro contato íntimo com uma lesão ativa (que contenha a bactéria Treponema), por transfusão de sangue ou derivado, ou, ainda, por inoculação acidental direta, por exemplo, em profissionais da área da saúde (raro). A grande maioria dos casos de transmissão ocorre por relações sexuais desprotegidas (sem preservativos).
As primeiras manifestações ocorrem após um período de incubação (da contaminação até apresentar o primeiro sintoma) de duração média de 21 dias, podendo variar de 3 até 90 dias.
A doença apresenta, como foi dito anteriormente, três fases distintas, com manifestações características em cada uma e um período de latência (sem sintomas) entre a segunda e a terceira fase.
Na fase primária, ocorre a lesão clássica nos genitais, porta de entrada do Treponema, chamada de cancro. É uma ferida com bordas endurecidas e profundas com o fundo macio e pouco dolorida. Esta lesão pode não estar presente ou oculta no caso das mulheres. Pode, ainda, ocorrer de maneira múltipla, mais freqüente naqueles indivíduos com a imunidade comprometida, como nos portadores de AIDS. Tais lesões são muito variáveis e freqüentemente atípicas, por esta razão, toda lesão nos genitais deve sofrer avaliação médica. Pode ocorrer o que os médicos chamam de linfoadenomegalias (ínguas) na região inguinal, concomitante, com a lesão primária. O cancro leva em média 3 a 6 semanas para se curar, podendo não deixar marca alguma.
A fase secundária ocorre após 4 a 8 semanas do surgimento do cancro, podendo inclusive esta lesão, ainda, estar presente. Nesta fase, ocorre a maior quantidade de Treponemas circulantes. O indivíduo contaminado apresenta sintomas genéricos como mal-estar, febre, dor-de-cabeça, dor-de-garganta, perda de apetite e peso e, em muitos casos, ínguas (linfoadenomegalias) pelo corpo todo. Em 80% dos casos, ocorrem lesões na pele do corpo todo, “poupando” o rosto, embora possam ocorrer nos lábios e comprometer a planta dos pés e palma das mãos (característico desta fase). São manchas pequenas com 3-10mm de diâmetro, róseas ou violáceas e planas, que não coçam ou doem.
Como o que ocorre nesta segunda fase é uma disseminação da bactéria pelo corpo todo, as manifestações podem variar de acordo com o grau de comprometimento de um ou outro órgão. Podem estar comprometidos cérebro, rins, fígado, tubo digestivo, olhos, ossos, tendões, cartilagens e articulações. Apesar de nesta fase os sintomas serem confundíveis com um grande número de doenças, felizmente, o principal teste diagnóstico é positivo em 99% dos casos. Desta fase, o indivíduo pode ir para sífilis latente, onde não há evolução para a fase terciária e fica livre de sintomas, embora possa recair tendo sintomas da fase secundária e seja potencialmente contaminante, sobretudo mulheres no caso de transmissão intra-útero para o feto. O indivíduo pode permanecer por tempo indeterminado nesta fase, podendo durar a vida toda.
A fase terciária é a fase de inflamação progressiva e lenta (crônica) com sintomas relacionados aos órgãos predominantemente comprometidos, é destrutiva e incapacitante. Assim, no caso do cérebro, teremos a neurosífilis, com sintomas de meningite e paralisia de nervos ou o comprometimento de vasos cerebrais causando obstruções de artérias, com sintomas de trombose ou derrames cerebrais. Quando compromete a medula, leva à perda de reflexos e sensibilidade dos membros com progressiva deterioração do controle dos esfíncteres e da capacidade de andar. O espectro de sintomas neurológicos é muito grande, podendo ocorrer quadros mais relacionados à sensibilidade: dores abdominais e/ou em membros até cegueira. Outra apresentação dominante é a cardiovascular, onde ocorre comprometimento de válvulas cardíacas (insuficiência e estenose) e dos grandes vasos principalmente do maior deles: a Aorta, levando à dilatação da mesma (aneurisma). Os sintomas são falta-de-ar e fadiga aos esforços cada vez menores. As conseqüências da fase terciária da sífilis ainda constituem em graves problemas médicos na atualidade, embora o surgimento de casos novos venha apresentando constante diminuição nas sociedades ocidentais desenvolvidas.
Como se viu anteriormente, esta doença pode se assemelhar com muitas outras, por esta razão o diagnóstico deve primeiro passar pela suspeita clínica. Na maioria das vezes, esta suspeita é levantada pelo médico através da avaliação da exposição às formas de contaminação, principalmente, sexo desprotegido e dos sintomas lesões genitais e manifestações na pele. O diagnóstico de outras doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS e gonorréia praticamente obriga a se fazer testes para sífilis.
Após a suspeita clínica, o médico dispõe de duas vias para a confirmação do diagnóstico. Ou detecta a bactéria na lesão (menos freqüente), ou, mais freqüentemente, testa a presença de anticorpos anti-Treponema no sangue.
O antibiótico mais indicado para a infecção por Treponema pallidum é justamente o mais antigo e de preço mais acessível dentre todos: a penicilina. Esta é uma das principais razões para a observação do decréscimo de novos casos de complicações mais tardias da doença (fase terciária) nos países desenvolvidos. Além, é claro, de eficiente controle de saúde pública.
Tratar sífilis parece ser muito fácil pelo custo e acesso ao tratamento. O maior problema continua sendo o diagnóstico, visto que pode ser confundida com muitas outras doenças.
Não há perspectiva de desenvolvimento de vacina para breve, por isso, a prevenção recai sobre a educação em saúde para suspeita e diagnóstico precoce e tratamento, além da promoção da prática de sexo seguro com o uso de preservativos.
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