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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Rins: Patologia - Insuficiência renal crônica

Saiba como se identifica e trata a insuficiência renal crônica (IRC).

Chamamos de insuficiência renal a condição na qual os rins perdem capacidade de efetuar suas funções básicas. A insuficiência renal pode ser aguda (IRA), quando ocorre súbita e rápida perda da função renal, ou crônica (IRC), quando esta perda é lenta, progressiva e irreversível.

Como sua instalação é lenta, o organismo consegue adaptar-se até fases bem tardias da insuficiência renal crônica. Portanto, trata-se de uma doença silenciosa.

Muitas pessoas acham que podem identificar um rim doente pela dor ou pela diminuição do volume de urina. Nada mais falso.

O rim apresenta pouca inervação para dor e por isso só dói quando está inflamado ou dilatado. Como na maioria dos casos de insuficiência renal crônica nem um nem outro ocorrem, o paciente pode muito bem precisar de diálise sem sequer ter sentido uma única dorzinha nos rins.

A quantidade de urina também não é bom indicador. Ao contrário da insuficiência renal aguda(IRA)onde a oligúria (redução da urina) é fator quase sempre presente, na insuficiência renal crônica, como a perda de função é lenta, o rim adapta-se bem e a capacidade de eliminar água mantém-se até fases bem avançadas da doença. Na verdade, a maioria dos pacientes que entram em diálise ainda urinam pelo menos 1 litro por dia.

Então, quais são os sintomas da insuficiência renal crônica?

Na maioria dos casos, até fases bem avançadas da doença, a resposta é nenhum.

Se não há sintomas, como fazemos o diagnóstico precoce? Através de exames laboratoriais.

Duas análises são de extrema importância para o diagnóstico:
- Dosagem da creatinina e da ureia no sangue
- Análises de urina

A partir dessas 2 análises, conseguimos identificar aqueles com insuficiência renal em fases iniciais e, portanto, assintomáticos. Sem esses exames é impossível saber como anda a sua função renal.

Quais são as principais causas de insuficiência renal crônica (IRC)?

- Hipertensão
- Diabetes mellitus
- Doença policística renal
- Glomerulonefrites
- Infecções urinárias de repetição
- Cálculos renais de repetição
- Doenças da próstata

Outras causas:
- Mieloma múltiplo
- Lúpus e outras doenças auto-imunes
- Doença de Fabry
- Abuso de anti-inflamatórios
- Gota - Amiloidose

Se você tem qualquer uma das doenças acima, é imprescindível que faça um acompanhamento regular da sua creatinina. Pelo menos uma vez por ano deve-se dosar a creatina, a ureia e realizar um exame simples de urina.

O grande problema da IRC é que o fato de não cursar com sintomas até fases avançadas não significa que a doença não provoque complicações durante este período. O rim desempenha várias funções no organismo, e conforme a doença avança, mais problemas de saúde podem surgir. O diagnóstico precoce é essencial para retardar a progressão da insuficiência renal e evitar suas complicações.

Quais são os estágios e as consequências da insuficiência renal crônica (IRC)?

Os 2 rins filtram em média 180 litros de sangue por dia, mais ou menos 90 a 125 ml por minuto. Esta é a chamada taxa de filtração glomerular ou clearance de creatinina. Como a média é de 100 ml/min, para um melhor entendimento dos pacientes costumamos dizer que esse valor corresponde a 100% da função renal. Se o seu médico diz que você tem 60% de função, isso significa grosseiramente que seus rins filtram 60 ml/min.

Os estágios da insuficiência renal crônica são divididos de acordo com a taxa de filtração, que pode ser estimada através dos valores da creatinina sanguínea. A insuficiência renal é muitas vezes uma doença progressiva, com piora da função ao longo dos anos. Alguns fatores como diabetes e hipertensão mal controlados aumentam o risco de rápida perda de função dos rins.

Estágio 1 - Pacientes com clearance de creatinina maiores que 90 ml/min, porém com alguma das doenças descritas acima (diabetes, hipertensão, rins policísticos etc...)

Os pacientes que possuem alguma dessas doenças têm sempre algum grau de lesão renal, porém podem ainda não influenciar na capacidade de filtração do sangue. São pacientes com função renal normal, mas sob alto risco de deterioração.

Pacientes com creatinina normal, mas com alterações no exame de urina, com sinais de sangramento ou perda de proteínas na urina, também entram neste estágio.

Estágio 2 - Pacientes com clearance de creatinina entre 60 e 89 ml/min.

Está pode ser chamada a fase de pré-insuficiência renal. São pessoas com pequenas perdas da função. Em idosos não significam nenhuma doença, apenas um sinal de envelhecimento do rim.

Nesta fase, o rim ainda consegue manter suas funções básicas e a creatinina sanguínea ainda encontra-se normal. Porém, ele está funcionando no seu limite.

São os doentes que correm risco de lesão renal por drogas como anti-inflamatórios e contrastes para exames radiológicos .

Estágio 3 -Pacientes com clearance de creatinina entre 30 e 59 ml/min.

Esta é a fase de insuficiência renal crônica declarada. A creatinina já começa a estar elevada e as primeiras complicações da doença começam a se desenvolver. O rim começa a diminuir sua capacidade de produzir a eritropoetina, hormônio que controla a produção de hemácias (glóbulos vermelhos) pela medula óssea, e o paciente começa a apresentar queda no seu hematócrito, apresentando anemia progressiva .

Outro problema que começa a surgir é a lesão óssea. Os pacientes insuficientes renais apresentam uma doença chamada de osteodistrofia renal, que ocorre pela elevação do PTH e pela queda na produção de vitamina D, hormônios que controlam a quantidade de cálcio nos ossos e no sangue. O resultado final é uma desmineralização dos ossos que começam a ficar fracos e doentes.

O estágio 3 é a fase onde os pacientes devem iniciar tratamento e ser acompanhados por um nefrologista. A partir da fase 3 os pacientes costumam evoluir com perdas progressivas da função renal. Alguns mais rápidos, outros mais lentamente.

Estágio 4 - Pacientes com clearance de creatinina entre 15 e 29 ml/min.

Está é a fase pré-diálise. Este é o momento onde os primeiros sintomas começam a aparecer e as análises laboratoriais evidenciam várias alterações.

O paciente apresenta níveis elevados de fósforo e PTH, anemia estabelecida, acidose (sangue ácido), elevação do potássio, emagrecimento e sinais de desnutrição, piora da hipertensão, enfraquecimento ósseo, aumento do risco de doenças cardíacas, diminuição da libido, diminuição do apetite e cansaço.

Devido a retenção de líquidos, o paciente pode não notar o emagrecimento, já que o peso pode se manter igual ou até mesmo aumentar. O paciente perde massa muscular e gordura, mas retém líquidos, podendo desenvolver pequenos edemas nas pernas.

Nesta fase o paciente já deve começar a ser preparado para entrar em hemodiálise, sendo indicada a construção da fístula artério-venosa.
Estágio 5 - Pacientes com clearance de creatinina menor que 15 ml/min.

Insuficiência renal crônica
Máquina de hemodiálise
Está é a chamada fase de insuficiência renal terminal. Abaixo dos 15-10 ml/min o rim já não desempenha funções básicas e o início da diálise está indicado.

Neste momento é que os pacientes começam a sentir os sintomas da insuficiência renal, chamado de uremia.

Apesar de ainda conseguirem urinar, o volume já não é tão grande e o paciente começa a desenvolver grandes edemas . A pressão arterial fica descontrolada e os níveis de potássio no sangue ficam elevados ao ponto de poderem causar arritmias cardíacas e morte. O paciente já emagreceu bastante e não consegue comer bem. Sente náuseas e vômitos, principalmente na parte da manhã. Cansa-se com facilidade e a anemia costuma estar em níveis perigosos.

Se a diálise não for iniciada o quadro progride, e aqueles que não vão ao óbito por arritmias cardíacas podem evoluir com alterações mentais, como desorientação, crise convulsiva e até coma.

Quando realizado ultra-som dos rins, estes normalmente já se apresentam atrofiados, com tamanhos reduzidos.

Alguns pacientes conseguem chegar até o estágio 5 com poucos sintomas. Esses são os mais difíceis de convencermos a entrar em diálise. Apesar dos poucos sintomas, estes apresentam inúmeras alterações laboratoriais, e quanto mais tempo se atrasa o início da diálise, pior serão as lesões ósseas, cardíacas, a desnutrição e o risco de arritmias malignas. Muitas vezes o primeiro e único sintoma da insuficiência renal terminal é a morte súbita.

O encaminhamento precoce para o médico nefrologista pode mudar a história natural da doença. Quando se compara a evolução de doentes referenciados no estágio 3 com aqueles referenciados apenas nas fases finais do estágio 4 ou em estágio 5, nota-se que ocorre:

- Uma redução na velocidade de perda da função renal (3,4 ml/min por ano contra 12 ml/min por ano), ou seja, os doentes não acompanhados por nefrologista perdem função renal até 4x mais rápido.
- Melhor controle da hipertensão e consequentemente menos lesões de outros órgãos.
- Menor incidência de lesões ósseas
- Menor incidência de desnutrição e emagrecimento
- Menor taxa mortalidade

Conclusão: a insuficiência renal crônica é uma doença  silenciosa que tem se tornado cada vez mais comum em nosso meio onde a diabetes e a hipertensão acometem mais e mais indivíduos. A dosagem da creatinina no sangue e o seguimento por médico nefrologista são essenciais para um melhor controle desta doença.

Um comentário:

  1. Caro Doutor,
    Minha avó está com problema renal crônico (estágio 3 e 4). Os médicos se recusam em iniciar procedimentos para tratá-la e devido a um AVC ela está internada. Diante desse quadro, minha dúvida é se ela terá que se submeter a procedimento de hemodiálise?

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